sexta-feira, 30 de julho de 2010

Imagens.

Mito da Caverna e a relação com a mídia


O clássico de Platão, A Alegoria da Caverna, também chamada de Mito da Caverna, pode vir a ser a melhor explicação das muitas “sombras” na parede da caverna que nós fomos ensinados desde o começo a perceber como formas reais. Essas sombras são tudo desde falsas ou terríveis ideologias políticas/religiosas a racismo baseada na ciência; tudo que é dado como uma verdade e um fato. Temos aqui alguns paralelos entre a caverna dele com a mídia.
“Imagine prisioneiros que estiveram algemados desde a nascença no fundo de uma caverna. Não só as pernas e pés estão algemados, como também a cabeça deles, para que seus olhos ficassem fixos numa parede na frente deles. Atrás dos prisioneiros há uma fogueira enorme, e entre o fogo e os prisioneiros há um muro, por onde passam diferentes formas de animais, plantas, e outros objetos transportados. Essas formas são reproduzidas na parede e captam a atenção dos prisioneiros, que são iludidos a entender que os ecos vindos das formas vêm na verdade d as sombras reproduzidas na parede. Eles então entram numa brincadeira de dar nome às formas que passam. Isso, é, entretanto, a única realidade que eles já conheceram, mesmo sendo que a única coisa que eles estão vendo são míseras sombras das figuras.”
“Agora suponha que um prisioneiro é solto e solicitado a ficar em pé e se virar. Sua visão será cegada pela fogueira brilhante, e as figuras que passam pelo muro irão parecer menos reais do que as sombras delas. Similarmente, se for forçado para fora da caverna para a luz do sol, sua visão estará tão cegada que não terá a capacidade de ver nada. No início conseguirá ver apenas as sombras, e aos poucos, evoluindo às figuras mais brilhantes. A última figura que ele conseguirá ver será o Sol, que logo ele verá como aquele objeto que providencia as diferentes estações do ano, e todas as coisas visíveis, e de certa forma, tudo que ele vira.”
“Sabendo disso, o prisioneiro que foi solto quererá voltar o mais rápido possível para poder assim livrar seus companheiros. O único problema é que eles não acreditam e consequentemente não querem ser livres. Se o prisioneiro livre voltasse às profundezas da caverna ele teria que reajustar sua visão para o lúdico processo de identificar as sombras na parede. Isso iria fazer com que seus companheiros se tornassem assassinos para com qualquer um que tente livrar-los.”
Se aplicássemos essa alegoria à vida atual, e disser que o prisioneiro solto realmente saísse da caverna. Ao invés de um muro com sombras temos uma televisão, ao invés de ecos temos um rádio. Na luz, o prisioneiro solto iria ver que a mídia não reproduz as notícias mas simplesmente casta sombras para divertir, enganar ou manipular os prisioneiros que ainda estão presos...
Com a finalidade da ilustração, a caverna descrita é consequentemente o mundo, os prisioneiros são todos aqueles que erroneamente veem a realidade passada verdadeiramente pela televisão. E aqueles que encontram a verdade, aqueles fora da caverna, sabem que eles serão denominados bobos, mentirosos e idiotas por aqueles que nada conhecem da realidade verdadeira. Os companheiros que se recusam a sair e ver o mundo real, como diz o que foi solto, irão acreditar naqueles que fazem pressão para cima deles, e atacar aqueles que tentarão salvá-los.
As sombras descritas na alegoria são erroneamente definidas como bom e ruim, pois quem os vê têm zero conhecimento da forma real da verdade. Filmes, rádio e televisão mostram apenas “sombras” que nós percebemos como a realidade. Esses meios são frequentemente acusados de refletir a realidade, porém não é assim. De fato, a expressão “realidade da televisão” é designada não para retratar a realidade, mas para simulá-la, e as “transmissões das notícias” não estão realmente transmitindo as notícias, mas fabricando ou então guardando para si as realidades.
Uma câmera segurada por um homem inflexível na caverna ainda recorda apenas as sombras e a interpretação individual dos outros prisioneiros. Entretanto, em raras ocasiões, a câmera é segurada por um homem que ascende o muro fora da caverna. Apesar de a interpretação permanecer individual, o homem livre é bem mais próximo da verdade. Aquela luz irá enfurecer e confundir aqueles que acreditam nas sombras na parede.
Essa é uma era onde as massas podem ascender a caverna e sair dela em números não ouvidos falar em nossa época. Essa é a era da internet. A maioria vê isso como uma coisa boa, que todos nós somos células do corpo maior da humanidade. É um corpo que vive e respira, onde a internet é o sistema nervoso, e traz a esse corpo um novo nível de inteligência como em nenhuma outra época na história. Todos nós somos precisos. Todos nós devemos trabalhar para mantê-la... e tratar aqueles fora desse corpo é injustiça. Todos devemos sair da caverna das sombras, não apenas a elite, não apenas os sortudos.
Há, portanto, uma minoria poderosa que acreditam que os prisioneiros deveriam continuar algemados, na escuridão. Esses são aqueles todo-poderosos, que estão eles mesmos cegados e consumidos pelas sombras, e irão lutar contra sair da caverna. Quem são esses? A mídia, aqueles que manipulam e controlam a percepção pública de “realidade” para objetivos políticos ou comercializados, e que nunca souberam a verdade absoluta, pois não foram introduzidos, procurados ou relevantes ao objetivo deles: poder e riqueza.
Uma vez do lado de fora da caverna, as pessoas vão compreender que a escuridão e as sombras devem ser abandonadas em favor das formas verdadeiras. Para aqueles que cresceram ricos na decepção e sombras, deixar a caverna para trás será especialmente difícil. Eles mesmos não irão sair, nem irão aborrecer outros para fazerem o mesmo.
As companhias da mídia usam seus vários recursos de política e riqueza para ir além e controlar também a internet. Eles irão, por conseguinte lutar aquela ascensão intelectual das pessoas consideradas nocivas ao comércio por eles realizado.
Nas palavras de Platão: “A casa-cadeia é o mundo da visão, a luz da caverna é o sol, e vocês não irão me desentender se interpretarem a jornada para cima como uma ascensão da alma para o mundo intelectual. No mundo da sabedoria a ideia do bem aparece no último lugar, e só é vista com certo esforço; e quando visto, é inferido a ser o autor universal de todas as coisas bonitas e corretas, parente da luz e lorde da luz neste mundo visível, e a fonte imediata da razão e verdade do intelectual; e isso é o poder por onde ele irá atuar racionalmente, ora em público ora na vida privada.”

Objetivo do Mito da Caverna

O que Platão quis representar no Mito da Caverna?

A massa da sociedade, cega às regras do jogo que a cercam.
Funciona até hoje, ele simplesmente representou a vida de 99% da população.

Sociedade atual


O mito da caverna de Platão pode representar o comportamento da sociedade atual?

A República de Platão trata do diálogo ocorrido na casa do velho Céfalo com Sócrates e diversos outros, alguns que participam do diálogo e outros que permanecem anônimos.

A investigação na obra é sobre o significado de justiça e como é a vida do homem e da cidade justos. Os livros intermediários da República, V a VII, são uma digressão do problema principal, que começa com a observação de como vivem as mulheres e crianças na cidade perfeita.

A exposição da teoria platônica das Formas [idéias] e aparências ou sombras [Fenômenos] através da metáfora do Sol e alegorias da linha e da caverna nos livros VI e VII. Deseja-se saber a condição do homem que vive na esfera das aparências, sua permanência ou não neste estágio, sua possibilidade de conhecer o inteligível e por que é bom que isso ocorra.

Aquele que contemplou as idéias no mundo inteligível desce aos que ainda não as contemplaram para ensinar-lhes o caminho. Por isso, desde Mênon, Platão dissera que não é possível ensinar o que são as coisas, mas apenas ensinar a procurá-las.

Os olhos foram feitos para ver; a alma, para conhecer. Os primeiros estão destinados à luz solar; a segunda, à fulguração da idéia. A dialética é a técnica libertadora dos olhos do espírito.

O relato da subida e da descida expõe a Paidéia como dupla violência necessária: a ascensão é difícil, dolorosa, quase insuportável; o retorno à caverna, uma imposição terrível à alma libertada, agora forçada a abandonar a luz e a felicidade.

A dialética, como toda a técnica, é uma atividade exercida contra uma passividade, um esforço (pónos) para concretizar seu fim forçando um ser a realizar sua própria natureza.

No Mito, a dialética faz a alma ver sua própria essência (eîdos) - conhecer - vendo as essências (idéia) - o objeto do conhecimento -, descobrindo seu parentesco com elas. A violência é libertadora porque desliga a alma do corpo, forçando-a a abandonar o sensível pelo inteligível.

O Mito da Caverna nos ensina algo mais, afirma o filósofo alemão Martin Heidegger, num ensaio intitulado "A doutrina de Platão sobre a verdade", que interpreta o Mito como exposição platônica do conceito da verdade.
É mais atual do que nunca este dialogo!!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Mito da Caverna

História em Quadrinho

Musica em relação ao Mito da Caverna



O Mito da Caverna
Quarto de Madame


Sombras mais sombras
Sombras mais sombras
Ao meu redor, ao meu redor!

Hei como pode saber se só o que viu é o fundo da caverna com a pouca luz que vem da fogueira lá fora...
Nem o que te prende como marionete ainda você pode ver

Sai das amarras, vire seu rosto e enxergue pela primeira vez.
Sai das amarras, vire seu rosto e enxergue pela primeira vez.

Desprenda Respire Caminhe e veja
Corra e sofra contemple esteja
Padeça aprenda se entregue e cresça
Sorria perceba se queime e vença

Volte e conte a verdade aos outros que mundo lá fora é de vocês
Volte e conte a verdade aos outros que o mundo lá fora também é de vocês

O que iriam dizer de você
Aquele não sabe mais o que vê
Louco
Insano

Sai das amarras, vire seu rosto e enxergue pela primeira vez.
Volte e conte a verdade aos outros que mundo lá fora é de vocês

Flores e folhas flores e folhas
Ao meu redor ao meu redor

Mito da Caverna em relaçao ao filme matrix


A obra mais popular sobre o tema, certamente é a trilogia Matrix, onde Neo é desplugado e descobre toda a verdade sobre o sistema que o controlava. O filme é muito criativo, uma obra de arte, mas existem inúmeras alusões ao gnosticismo, ocultismo e à maçonaria. Na série de três filmes, o mais interessante é o primeiro, que estabelece uma analogia com a alegoria da caverna

Reflexão sobre a Alegoria da Caverna


Com esta história Platão quer mostrar para todos nós que devemos aprender a raciocinar por nós mesmos, e não pensar apenas sobre o que querem que pensemos, e que é preciso aprender a ver não só o que as pessoas que tem o poder nos mostram, mas ver além das coisas concretas. Os homens que não queriam sair da caverna, somos nós que não estamos dispostos a pensar, porque já estamos acomodados a esta vida medíocre que levamos, acostumados a ver somente o que os donos do poder nos mostram e acreditando que somente aquilo é verdadeiro que somente eles estão certos, e que nós não precisamos pensar porque já tem que o faça por nós. Então somos convidados a sair da caverna para ver a realidade e deixarmos de ser submissos a estes tais donos do poder. Agora só depende de cada um para acordar para esta realidade e aprendermos a pensar, não sobre o que querem que pensemos e sim que descubramos o verdadeiro mundo que existe e nós não conhecemos.

Mito da Caverna



O mito da caverna, também chamada de Alegoria da caverna,foi escrita pelo filósofo Platão, e encontra-se na obra intitulada A República (livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.

Alguns ainda chamam de Os prisioneiros da caverna ou menos comumente de A parábola da caverna.

Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.

Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se, forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira.

Os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.

Um dos prisioneiros decide abandonar essa condição e fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. Aos poucos vai se movendo e avança na direção do muro e o escala, com dificuldade enfrenta os obstáculos que encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.

Platão não buscava as verdadeiras essências da forma física como buscavam Demócrito e seus seguidores. Sob a influência de Sócrates, ele buscava a verdade essencial das coisas.

O diálogo de Sócrates e Glauco



Trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimanto, são os irmãos mais novos de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua eterna busca da verdade.

Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.

Glauco – Estou vendo.

Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.

Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.

Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?

Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?

Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?

Glauco - É bem possível.

Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?

Glauco - Sim, por Zeus!

Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos fabricados?

Glauco - Assim terá de ser.

Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora?

Glauco - Muito mais verdadeiras.

Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?

Glauco - Com toda a certeza.

Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?

Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.

Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.

Glauco - Sem dúvida.

Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.

Glauco - Necessariamente.

Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na caverna.

Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.

Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?

Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.

Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?

Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.

Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?

Glauco - Por certo que sim.

Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?

Glauco - Sem nenhuma dúvida.

Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.

Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.

(Platão, A República, v. II p. 105 a 109)

Um pouco sobre a vida do Filósofo Platão



Platão, nascido em 428 a.C, foi o primeiro grande filósofo do período clássico. Ele desenvolveu em seus diálogos uma reflexão profunda sobre assuntos que mais tarde se tornariam centrais para o pensamento filosófico. Platão foi também discípulo de outra grande e conhecida figura, que nada escreveu Sócrates (470 – 399 a.C) e o transformou em personagem principal em grande parte de seus diálogos. Além de Sócrates, Platão foi também influenciado pela filosofia dos pré-socráticos, Parmênides e Heráclito.
Em suas diversas obras, Platão vai mudando o estilo de pensamento. Nos primeiros diálogos dele, os pensamentos dele se encontram aparentemente bem próximas aos de Sócrates, daí o nome “diálogos socráticos”. Um pouco depois de 400 a.C, Platão viajou à Sicília de onde retornou em 388 a.C. Em 387 a.C, fundou sua primeira escola em Atenas, e a partir daí, começou a se afastar dos pensamentos de seu antigo mestre, e desenvolveu sua própria filosofia, onde a ideia central é a teoria das Formas ou Ideias.
O seu modo de pensar muda frequentemente de modo significativo. Por exemplo, nos diálogos socráticos ele passa um estilo mais dramático e são geralmente inconclusivos, seguindo o pensamento de Sócrates. Já os diálogos onde Platão expõe a teoria das Ideias, têm um estilo mais expositivo perdendo muito seu caráter dramático.
Dentre de seus muitos diálogos estão: “Apologia de Sócrates”, “Críton”, “Protágoras”, “O Banquete”, “Mênon” e “A República”.
Platão morreu em 348 a.C deixando um imenso legado culturalmente e filosoficamente falando.